Campo de Ourique. Um bairro a descobrir com Luis Maio
Luis Maio é jornalista e ensaísta, fotógrafo e viajante. Ele criou Lisboa Art and Soul para ajudar as pessoas a descobrir a sua cidade, Lisboa, que conhece muito bem. Uma Lisboa fora dos trilhos batidos. Os Santos de Lisboa, Lisboa Arty, Lisboa Imperial… pequena e grande história cruzam-se nas caminhadas de Luís Maio. Visitas culturais sem monotonia, uma viagem a oferecer-se.
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Campo de Ourique, uma batalha, um bairro, uma Lisboa secreta.
Campo de Ourique deve o seu nome a uma famosa batalha, a de Ourique (no Alentejo) que se diz ter sido decisiva na tomada do território aos árabes de Al-Andalus por parte dos cristãos. Em 1139.
O bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, é muito mais recente. Desde o começo com a cunha militar até ao final do século XVIII, com a instalação dos regimentos 4 e 6 de infantaria.
Logo após o terramoto de 1755, houve a vontade de construir ali o palácio real. O projecto faraónico nunca viu a luz do dia.
Mas foi lançado o interesse por esta zona plana em redor de Lisboa.
Descobrir um bairro diferente
Nem antigo nem moderno, Campo de Ourique é famoso pelo seu desenho urbano ao estilo de Haussmann. Pois é sob a influência da arquitectura contemporânea da época Hausmanniana que o distrito descolou.
Duas ruas principais, a famosa Ferreira Borgès e os seus passeios arborizados e a rua Silva Carvalho delimitam o distrito. Assim como um desenho quadrado das ruas transversais.
Os distraídos se percam com facilidade ai. Mas o bairro é um encanto para os guias que se entusiasmam pela arquitectura.
Campo de Ourique está cheio de surpresas. Aqui está a pastelaria mecânica com a sua requintada decoração de 1915. Ali há uma padaria popular, a Padaria do Povo, que se tornou um lugar na moda e alternativo.
As vilas operarias de Campo de Ourique
Este é um dos segredos de Campo de Ourique, as suas habitações operarias . São chamadas “vilas” e a maioria nasceram com o final do século XIX e a industrialização do vale de Alcântara.
Nessa altura, os trabalhadores tinham de ser alojados: as villas – uma fila de pequenas casas ao longo de um pátio comum, muitas vezes em forma de U – eram construídas nos interstices das casas da classe burguesa. Assim, as vilas não têm fachadas, ao contrário das casas dos patrões e dos comerciantes, que são bem vistosas na rua.
Quando Luis Maio empurra um portão, os últimos recantos das casas operarias revelam um pedaço de história. Uma mudança de cenário é garantida.
Campo de Ourique, a derradeira casa de Pessoa.
Fernando Pessoa, o famoso poeta e escritor do início do século XX, viveu os seus últimos anos numa casa em Campo de Ourique. Hoje é um centro cultural e de investigação dedicado ao brilhante autor do Livro da Intranquilidade e da Ode Marítima.
Pois Campo de Ourique sempre foi afinal um dos lugares preferidos de artistas e escritores. Tanto que, na época do Estado Novo, personalidades culturais quiseram criar uma “villa” artística.
No modelo das vilas operarias, as oficinas ainda existem. As casas são decoradas com esculpturas da época, que revelam un certo erotismo. Devemo-los ao espanhol Juan Avalos.
Um espaço a descobrir entre os edifícios modernos do bairro, rua Coelho da Rocha, é o pátio dos artistas.
Luis Maio propõe uma caminhada de 3 horas. Começa nos Amoreiras, o primeiro centro comercial de Lisboa, e termina no cemitério dos Prazeres. Entre os dois encontraremos uma anarquista, o primeiro tiro da República, uma tentadora da belle époque, um cemitério romântico.
E certamente o lugar mais antigo de Lisboa. Mistério…
Lisbon Art and Soul
Passeios de três, quatro, cinco horas.
Mínimo de 2 pessoas. Máximo de 20 pessoas.
Os preços variam entre 20 e 25 euros diminuem em função do número de pessoas.